Trata-se de um bicho de milhares de cabeças, que no entanto, muitos querem decapitar, apesar da sua grandeza e urgência. Do que se trata? De cuidar do verde e do lixo? Ou ainda, preservar a natureza intocada ? Ou as baleias, o macaco-prego e bichos em extinção? Estas coisas são partes menores do tema.
As partes maiores aparecem entendendo que estamos falando da nossa vida cotidiana, das nossas relações - sociais, econômicas, culturais, afetivas, e isso é em primeiro lugar o ambiente.
Ética vem de ethos, ou seja, “habitação/habitat”, com sentido geográfico, político e de valores pessoais. “Ambiente” é assim um sinônimo de ética, e indica o estado de coisas que produzimos continuamente em relação com a Vida – natural, artificial, humana, não-humana: com sentido muito amplo.
Ambiente e habitação trazem a idéia de complexidade (uma teia com bilhões de fios entretecidos), de interdependência de fatores socioambientais, de ecossistema, de vida dinâmica em transformação e necessidade de equilíbrio aí dentro, como numa dança. Para que? Para que os seres todos vivam e morram dentro de uma ordem de trocas coerentes (e aí está também o amor !), numa vida apreciável para todos apesar de difícil. É a tendência natural e cultural para a expansão da vida, da biodiversidade e assim da consciência - que vai da matéria ao espírito.
Já quando este propósito é ferido, e não tem tempo hábil para concertar-se, curar-se, caímos nalgum tipo de violência. A violência é a falta de Paz. A Paz é socioambiental: é entre países, é comigo mesmo, com o vizinho, com os seres naturais, com a vida.
É uma integração, inteireza e movimento. E quando se diz “ética ambiental”, é para lembrar um pouco mais da relação dos homens com os seres todos e com o ecossistema em (des)equilíbrio. Daí a palavra “sustentável”. Ética ambiental é levar uma vida sustentável.
Como ? Criando consciência política, participando, criando melhores laços afetivos, aprendendo a amar a Vida; e claro, igualmente, não usar venenos, consumir menos, economizar energia e recursos como a água; evitar produtos industrializados o máximo possível e buscar os produtos orgânicos/ecológicos, usar papel reciclado; priorizar a medicina e a agricultura natural e alternativa, andar mais de bicicleta e a pé, conhecer os problemas ambientais básicos, que são sempre sociais.
Veja que entrar na ética ambiental é como que acordar para o tempo ecológico que estamos vivendo! Não há nada mais importante hoje do que criar uma consciência socioambiental, pois disso depende nosso presente e nosso futuro próximo. Alguns podem estar pensando: mas o que eu ganho com isso ?
Atenção: “ambientar-se”, criar sustentabilidade, não é algo apenas para os seres não-humanos, mas é para mim mesmo, pois todo mundo precisa cair na real e encontrar um sentido feliz para “com-viver”, e estamos numa interdependência enorme uns com os outros.
Ninguém quer viver num mundo insuportável. Ética ambiental é criar relações melhores, é criar ânimo (alma) em tempos desalmados; é criar laços de amizade e amor com os outros; é perceber a maravilha e grandiosidade, o mistério nas cores, sabores, texturas, sons, olhares humanos e não humanos.
É a magia que se estende dos raios solares matutinos ao brilho noturno das estrelas e da Lua. É preciso saber olhar... É poder respirar a energia vital, comer, absorver a natureza e os afetos e recebê-los como dons, e então, doar, entregar, fazer a sua parte.
A vida é uma troca. O universo responde à nossa violência ou à nossa benção, mais cedo ou mais tarde. Em todo caso, “antes tarde do que nunca” para aprender a sustentar-se, ambientar-se, integrar-se; isso é ética para além de moral repressora.
Aliás, a ética e o ambiente exigem grande coragem, pois é uma luta que vai além do egoísmo, que não nega a individualidade e o mistério de cada um, mas junto a isso faz a entrega de si à vida, talvez para além da morte. Afinal, medo da morte é medo da vida, medo da natureza, da nossa própria natureza/corpo.
A ética ambiental é uma manifestação do amor humano corajoso que habita dentro de nós e que quando o despertamos, ele brilha nas cores da vida. Nós é que acinzentamos ou colorimos de beleza a nossa vida. A aquarela do ambiente está em suas mãos !