Há um consenso popular de que, no trânsito, as pessoas deixam de ser imprudentes quando “sentem no bolso" as suas infrações. Os responsáveis por as coibirem sabem disto e utilizam este artifício. Estes mecanismos seriam desnecessários se os condutores não agissem como crianças e soubessem diferenciar ética de moral.
Os motoristas precisam compreender que ética é o motivo pelo qual agimos e moral é o reflexo da nossa ética. Se encontrarmos uma mala com dinheiro e a devolvermos, estaremos agindo com moral, pois fizemos o que era correto. No entanto é preciso analisar se a ética também estava correta. Caso tenhamos devolvido o dinheiro porque temos consciência de que ele não é nosso, a ética (ou seja, o motivo que nos levou a agir com moral) estará perfeita, porém se o devolvermos pelo receio que descubram que ficamos com o dinheiro, a ética estará corrompida.
Há poucos dias atrás, saia de Montenegro, em direção a Porto Alegre, de carona com um amigo. Ao passar pelo município de Santa Rita, observei uma lombada eletrônica apagada. Ela não registrava as velocidades e, consecutivamente, não denunciava aqueles que ultrapassavam o limite determinado. Pois bem, a bordo do carro, observei que meu amigo sabia do não funcionamento do equipamento e manteve a sua velocidade elevada. Questionei-o do porquê de não ter reduzido, conforme orientava a sinalização, e ele respondeu: "Você não percebeu que a lombada não estava funcionando?".
O gesto dele levou-me a uma triste conclusão: uma lombada eletrônica legitima a nossa falta de ética. Enquanto estes equipamentos estão ativos, todos reduzem suas velocidades, mas não por consciência de que é seguro reduzir e sim por que receiam a multa. Agem como crianças que, na desatenção dos pais ou na queda do cercadinho que garante a sua segurança, rompem o limite determinado. Alguns evitam uma conduta correta, pois confundem uma pessoa ética com uma pessoa extremamente regrada; um “certinho” e não querem ser classificados deste modo. Não percebem que guardas de transito, pardais, lombadas eletrônicas e todo tipo de legitimadores da falta de ética são mecanismos financiados por nós; com o nossos impostos.
Portanto é preciso haver consciência de que o custo da nossa falta de ética é muito superior do que simples e ocasionais multas de trânsito. Ético não é alguém demasiadamente correto, e sim uma pessoa adulta que não precisa de um “cercadinho eletrônico” para não romper um limite criado para garantir a sua segurança.
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